31 janeiro 2007

Som do silêncio



Vídeo da ONG brasileira Vez da Voz, que conta a história de uma menina surda e de como ela se relaciona com os amigos na escola.

Surdez: graus de severidade e implicações na comunicação

Audição normal – limiares entre 0 e 24 dB.

D.A. ligeira – limiares entre 25 a 40 dB:
- Dificuldades para ouvir palavras de fraca intensidade;
- Ligeiro défice verbal (ligeiro atraso no desenvolvimento da linguagem);
- Perturbações articulatórias – dificuldades em alguns fonemas;
- Exigência de atenção por parte do indivíduo.

D.A. moderada – limiares entre 41 e 70 dB:
- Dificuldade para ouvir a palavra na intensidade normal;
- Necessidade de amplificação para uma adequada aprendizagem da linguagem;
- Sem amplificação existe o risco de acentuado atraso de aprendizagem;
- Possibilidade de implicações psicológicas e sociais.

D.A. severa – limiares entre 71 a 90 dB:
- Dificuldade para ouvir a voz gritada;
- Se ocorrer na fase pré-lingual causa défice linguístico substancial – atraso no desenvolvimento da linguagem;
- Necessidade de amplificação – mas ainda permanecem dificuldades na distinção de sons consonânticos;
- Necessidade de educação especial.

D.A. profunda – limiares acima de 90 dB:
- Dificuldade para compreender a voz amplificada;
- Acentuado défice linguístico – grave atraso no desenvolvimento da linguagem;
- Atraso marcado na aprendizagem;
- Necessidade de educação especial;
- Consequências psico-sociais muito relevantes.

Surdez total/cofose – ausência total de audição (casos raros):
- Graves dificuldades no desenvolvimento da linguagem;
- Dificuldades de aprendizagem ainda mais graves;
- Ensino especial indispensável;
- Graves problemas psico-sociais.

Referência: Riper, C.V. & Emerick, L. (1997). Correcção da linguagem – uma introdução à patologia da fala e à audiologia, 8.ª ed. Porto Alegre, Artes Médicas.
REALIZADO POR: DANIELA DE OLIVEIRA VIEIRA
(aluna finalista de TF na UFP)

27 janeiro 2007

Surdez: sinais de alerta

Família – a primeira a suspeitar de surdez, por observação da criança:
Em crianças muito pequenas:
- Nos primeiros 4 meses de vida: ausência de reacções aos sons; sensibilidade exagerada às vibrações; sono demasiado calmo; comportamento diferente do usual – a criança é muito quieta, dorme muito e em qualquer ambiente, não se assusta com sons intensos;
- Entre os 4 e os 12 meses: mantém os sintomas anteriores; palrar não melódico; utiliza uma comunicação gestual;
- Dos 12 aos 24 meses: ausência de palavras articuladas; desatenta a tudo o que está fora do seu campo visual; emissões vocais descontroladas – gritos; instalação de uma linguagem gestual progressiva;
- Aos 24 meses: início das perturbações do comportamento; dificuldades na motricidade fina;
Em crianças mais velhas:
- Não desenvolvem linguagem ou têm grandes dificuldades para aprender a falar.
Na escola
– as crianças com surdez severa, profunda ou total são geralmente identificadas cedo. As crianças com surdez ligeira ou moderada tendem mais a ser negligenciadas. As seguintes características devem ser encaradas como sinais de alerta:
- Crianças com comportamento que se assemelha a outros distúrbios como a deficiência mental ou problemas comportamentais;
- Olhar inexpressivo – podem não compreender o que está a ser dito;
- Bloqueio de comunicação – criança muito envolvida com a sua própria ansiedade;
- Queixas de dores de ouvido, desconforto, assobios, zumbidos, resfriados e dores de garganta frequentes;
- A criança aumenta o volume do rádio, TV, ou encosta o ouvido ao altifalante para ouvir melhor;
- O aluno pede frequentemente para repetir o que acabou de ser dito – têm o hábito de dizer “anh?”;
- A criança não responde ou é desatenta quando se fala com ela, são por vezes rotuladas de “criadores de conflito”;
- O aluno recusa em participar em actividades orais na aula.
Na consulta de terapia da fala
– verificar se na anamnese existem factores de risco ou referências da professora e da família; observar externamente o ouvido; duvidar (sempre!) mesmo que os pais digam que a criança ouve bem; presença de erros articulatórios, como: omissões de sons consonânticos, por exemplo das sibilantes – perda de altas-frequências; confusões fonéticas quanto à sonorização – surdez de transmissão; disortografia.

Referência:
Pinho e Melo, A. (1986). Aspectos médicos e audiológicos. In: Pinho e Melo, A. et al. A criança deficiente auditiva situação educativa em Portugal. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian. pp. 45-103.
REALIZADO POR: DANIELA DE OLIVEIRA VIEIRA (aluna finalista de TF na UFP)

21 janeiro 2007

Dar voz aos livros


BOCA é uma editora portuguesa de audiolivros, cujo objectivo é transformar o livro num objecto sonoro para quem o possa ouvir e “dar-lhe voz”, cuidando da qualidade da leitura e do som dos textos. “É tão bom fechar os olhos e poder estar a ler.” Michele Amaral (in Visão, 719), uma das fundadoras da editora juntamente com Oriana Alves e João Motta.

Os audiolivros são gravações com o conteúdo dos livros lido em voz alta e podem ser uma versão dramatizada do que está impresso. Pretendem ser uma forma agradável de passar o tempo, enquanto se realizam outras actividades menos interessantes. São ainda essenciais para os cegos e poderão ser úteis no ensino da leitura, para auxiliar as crianças quanto à compreensão do que é lido, ou até uma forma de fomentar a cultura.

Este tipo de livros é já muito popular na Europa e nos EUA, sendo esta iniciativa importante para a promoção deste formato em Portugal.

13 janeiro 2007

De Profundis, Valsa Lenta

J., a comparsa com quem partilho as ansiedades, convicções, perplexidades e satisfações do estágio, disse “Gostava de ficar afásica durante uma hora, só para ver como seria.”. J. teve uma atitude que considero fundamental numa relação terapêutica, que é a de nos colocarmos no lugar do outro. São pessoas e não casos. Esta conversa recordou-me um livro de um dos meus escritores portugueses favoritos e que já li há uns 10 anos. Na altura, pensei: “Que estranho! Cardoso Pires falava, mas o seu discurso não fazia sentido, inventava palavras, não compreendia o que o rodeava e um detalhe muito interessante é que, ao longo da sua narrativa, tanto usa a primeira como a terceira pessoa do singular – «eu» e logo na frase seguinte «ele»!!”.

José Cardoso Pires, sofreu um acidente vascular cerebral grave, em 1995, que lhe afectou a área da linguagem. Ele sobreviveu e deixou-nos um livro sobre a sua experiência na fronteira turva entre a vida e o fim, a que ele chama de morte branca. Ler De Profundis, Valsa Lenta é ter o privilégio de conhecer algo mais sobre afasia do tipo fluente, através de palavras trabalhadas com mestria. O regresso lento das profundezas…
José Cardoso Pires (1925-1998)

Nas palavras do próprio... De Profundis, Valsa Lenta:
HORTA, Maria Teresa in Diário de Notícias, Há mais imaginação na ciência, Lisboa, 11 de Julho, 1997
«"De Profundis" é um livro terminal?

Não considero que seja um livro terminal. Digamos que De Profundis será, quanto muito, na minha opinião, um espaço branco no meio da minha escrita, da minha obra. Eu nunca pensei escrever esse relato, ou esta memória, não sei como posso chamar a este texto.

Porque o escreveu?
Em conversas que tive com o professor Lobo Antunes ele disse-me: "Você contou-me coisas que valia a pena que as relatasse." Como ele escreveu no seu prefácio, "é escassa a produção literária sobre a doença vascular cerebral". E eu resolvi seguir o conselho.

Foi fácil escrever sobre a sua doença?
Não, foi difícil, fi-lo sempre com grande receio, porque não tenho cultura médica, não tenho cultura científica para me estar a meter em terrenos que não me são próprios.

Este é um livro de ficção?
Não, não é. Antes dele tentei fazer um livro de ficção e depois pu-lo de parte.

Mas não é seu hábito escrever mais do que uma versão de cada livro?
É realmente meu costume escrever duas versões, no mínimo, de cada livro. Desta vez escrevi qualquer coisa como três versões deste texto.

Muito diferentes umas das outras?
Muito. Eu queria fazer uma coisa rigorosamente objectiva. E depois, do ponto de vista literário, que é o que me interessa particularmente, tentei fazer aquilo a que se poderia chamar uma escrita branca.

E acha que conseguiu atingir essa escrita branca?
Bem, essa escrita branca foi sempre o meu sonho, uma escrita despojada, uma escrita substantiva tanto quanto possível.

Despojada de quê?
Despojada de barrocos, de advérbios. Como fez esse grande poeta, o João Cabral de Melo Neto, que me seduz pela sua escrita seca e descarnada.

Pode dizer-se que este é um livro de memórias?
Sim, uma memória da não memória. Não tenho uma boa definição para isso.

No texto você diz que fez uma viagem à não memória.
Uma viagem à desmemória, ao homem sem memória, e um homem sem memória é um homem perdido. Porque não tem afectos, ninguém pode gostar de alguém se não tiver memória.

Você perdeu igualmente as suas emoções?
Perdi as emoções, quase perdi a fala, a fala fica destroçada, perdi as relações, pois quando não se tem memória não se tem relações, quando se perde a leitura e a escrita fica-se impossibilitado de comunicar.

Mas não conta neste livro as memórias desse estado?
O que conto neste livro foi em grande parte o que me contaram, não foi imaginado.

Então, que referências é que teve quando escreveu "De Profundis"? Só o que os outros lhe disseram?
Há coisas que conto, que vivi, que me lembro delas, embora não sejam muitas. O ambiente, sim, lembro-me dele. A recordação que tenho é de uma brancura iluminada, as pessoas eram vultos muito brancos. Suponhamos que podia haver sombras brancas... O que me ficou foi a brancura morna e bastante iluminada.

Portanto, não tinha, não havia identidade?
Totalmente. É isso que penso hoje. Quando andava naquilo sem saber, aparecia uma pessoa, cumprimentava-me, eu olhava-a e nunca tinha conhecimento de quem se tratava. Mas assim que essa pessoa saía perguntava logo quem era. Eu queria entender quem eu era e uma das maneiras de o saber seria saber quem era o outro, porque através do outro tinha referências.

O facto inquietava-o?
Ah, não! Andei perfeitamente tranquilo, a sorrir para toda a gente. Eu, que não sou sorridente, como sabe, acho que nunca fui tão simpático.

Em que espaço é que se passa este seu livro?
Para mim aquele período todo não tem dimensões.

Logo, o seu horizonte era um horizonte vazio?
Sim, era um horizonte perfeitamente vazio, eu via as pessoas e as pessoas passavam po mim.

Com esta escrita pretendeu exorcisar isso tudo?
Não, com esta escrita descobri uma coisa em que nunca tinha pensado, é que o bem mais precioso do homem é a memória.

Mais do que a inteligência?
Mais. A inteligência não pode existir sem memória. A memória é tudo, é a base do ser humano. Estou a dizer isto e nunca na vida li alguma coisa sobre a memória... Continuo tão analfabeto em coisas de medicina como dantes.

A memória será, pois, a grande descoberta deste texto?
É a descoberta que faço neste livro. Mas há também em De Profundis a descoberta de uma extraordinária gratidão pela ciência, pelos médicos, é por isso que o dedico a eles.

Tem uma grande admiração pela ciência?
Sempre tive. O Pessoa, Álvaro de Campos, compara o binómio de Newton à Vénus de Milo, eu não comparo, sem a Vénus do Milo podia passar.

Mas podia passar sem literatura?
Ah, isso é outra coisa! Eu percebo a pergunta, é correcta porque isto dito assim é um bocado forte de mais, há comparações que não são justas. Mas, por exemplo, se me perguntarem onde há mais imaginação, se na ciência ou nas artes responderei, sem dúvidas que é sobretudo na ciência.

Pode dar um exemplo?
A imaginação das artes deu para o senhor Júlio Verne descrever a Lua, enquanto a imaginação da ciência deu para ir à lua e estar lá.

Mas a literatura inventa, prevê, vai à frente, não acha?
Uma das funções da literatura é não só "prever" o passado como prever o futuro. É aliciante por esse lado, mas como valor humano, como carga humana, a ciência ultrapassa-a.»

10 janeiro 2007

Perturbações oro-faciais: avaliação

A avaliação poderá ser dividida em:

A) CLÍNICA, na qual se avalia:

1. Morfologia e postura da face, utilizando o método da antroposcopia – avaliação visual. Contudo, alguns técnicos utilizam antropometria para recolher dados quantitativos, através de um paquímetro, fita métrica ou por fotografias. Neste capítulo devemos observar:
- Lábios – verificar se estão abertos, fechados ou entre-abertos. Observar se: lábio superior encurtado, nariz com ângulo muito obtuso, freio do lábio superior curto, má oclusão dentária, distanciamento/mandíbula, que podem dificultar ou impedir o encerramento labial;
- Língua – observar formato, presença de marcas de dentes ou ferimentos nas laterais, freio da língua, verificar a sua localização na cavidade oral: papila palatina, região alveolar inferior, assoalho oral ou entre os dentes;
- Bochechas – observar internamente se existem marcas ou ferimentos, se são assimétricas (por mastigação unilateral) ou caídas (por respiração oral);
- Amígdalas palatinas – observar a presença ou não, e se estão aumentadas. O que pode dificultar o posicionamento correcto da língua e a deglutição;
- Dentes – observar o tipo de dentição (decídua, mista ou permanente), presença de cáries, e/ou uso de próteses dentárias. Contar o número e verificar a existência de falta de dentes;
- Oclusão – observar o tipo de oclusão dentária, fase de dentição. Na fase decídua são consideradas alterações no sentido vertical e anterior. Na fase permanente são consideradas anomalias no sentido antero-posterior;
- Palato duro – observar conformação, se é estreito ou em ogiva, pois pode alterar o posicionamento da língua;
- Palato mole – observar se a úvula é bífida ou sulcada. A presença hipernasalidade pode ser indício de fenda sub-mucosa, necessidade de exames otorrinolaringológicos;
- Nariz – observar se a base é alargada, se as narinas são estreitas ou se há desvio septo, o que pode estar associado a uma respiração oral;
- Olhos – observar se são simétricos, se existem olheiras, indicadoras de respiração oral;

2. Tonicidade – devemos ter em conta que por causa das alterações e mau uso das estruturas, o tônus pode estar aumentado ou diminuído;

3. Mobilidade – quando existe alteração do tônus em princípio a mobilidade também poderá ser inadequada. Neste capítulo pedimos ao doente que faça movimentos dos lábios, língua, bochechas, palato mole e mandíbula. Podemos recorrer a pistas visuais e tácteis, que devem ser registadas;

4. Funções neuro-vegetativas:
- Respiração – verificar o posicionamento dos lábios e da mandíbula, com o espelho de Glatzel visualizar se há passagem de ar e se esta é uniforme e simétrica. Caso existam dúvidas deve-se encaminhar o doente para um exame otorrinolaringológico;
- Mastigação – dar um pedaço de pão ao doente e instruir-lhe que o coma como é habitual, durante esse período de tempo devemos observar: como cortou o alimento; com que dentes e qual o tamanho do alimento introduzido na boca; predomínio de movimentos horizontais ou verticais durante a deglutição; como é a mastigação, com os lábios abertos ou fechados; com ou sem ruídos; excesso de movimento da musculatura oral; existe lateralização do alimento; interposição do lábio inferior e o tempo de mastigação. Podemos recorrer à filmagem para avaliar com pormenor todos os movimentos e para o próprio doente se auto-avaliar;
- Deglutição – dar um gole de água e observámos: se há projecção da anterior ou lateral da língua; participação da musculatura oral; projecção da cabeça; engasgo; interposição do lábio inferior, ou se há presença de ruídos; numa segunda fase podemos abrir os lábios e verificar se existe estase de alimentos no vestíbulo. Depois repetimos o procedimento, mas com alimento sólido. Nesta prova também podemos recorrer à filmagem;
- Fala – por meio de uma conversa espontânea ou fala dirigida (repetição e/ou nomeação), observar se ocorrem: omissões, substituições, excesso de salivação, desvio da mandíbula ou outras dificuldades articulatórias; verificar se existe sigmatismo anterior ou lateral.

B) INSTRUMENTAL, onde se faz uso de radiografias, videofluoroscopia, nasoendoscopia, electromiografia de superfície e nasometria. Um dos testes utilizados para a avaliação da motricidade oro-facial é o protocolo de avaliação oro-facial (PAOF), que contempla aspectos de morfologia, função e avaliação de movimentos antagonistas – diadococinésia.

REFERÊNCIAS:
Junqueira, P. (2004). Avaliação e diagnóstico fonoaudiológico em motricidade oral. In: Ferreira, L.P., Befi-Lopes, D.M. e Limongi, S.C.O. (Orgs.). Tratado de fonoaudiologia. São Paulo, Roca. pp. 232-236.
Zambrana, N. (2001). Trastornos orofaciais. Terapia miofuncional. In: Puyuelo, M. (Org.). Casos clínicos en logopedia 1. 4ª Ed. Barcelona, Masson. pp. 77-103.
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REALIZADO POR: DANIELA DE OLIVEIRA VIEIRA (aluna finalista de TF da UFP)

07 janeiro 2007

Perturbações oro-faciais: alterações músculo-esqueléticas e interferência na fala

As alterações da fala na sua maioria podem estar associadas a problemas oro-faciais, que passo a enumerar.

- Amígdalas hipertróficas – provocam alterações no posicionamento e mobilidade da língua. Por exemplo, quando a parte média da língua fica elevada, promove sigmatismo lateral;

- Dentes – ausência, apinhamento ou outras alterações provocam alterações do espaço intra-oral, dificultando o posicionamento da língua e a articulação precisa dos fonemas. Por exemplo, os diastemas provocam alterações na fala como assobio e maior escape de saliva e anteriorização dos fonemas;

- Oclusão e mordida – as mordidas abertas, cruzadas e sobre-mordidas alteram igualmente a produção dos fonemas. Nas últimas é frequente a ocorrência de assobio nas sibilantes, devido à falta de espaço vertical interno. No caso das mordidas cruzadas, pode ocorrer deslizamento lateral da mandíbula e consequentemente, má produção das sibilantes. As mordidas anteriores promovem o aparecimento de sigmatismo anterior e anteriorização do ponto articulatório dos fonemas linguo-dentais. O sigmatismo lateral também pode surgir devido à posição alta da parte média da língua, impedindo a passagem do ar;

- Disfunção temporomandibular – podemos observar nestes casos lateralização da mandíbula na produção do fonema /s/ e do /z/ e redução da amplitude dos seus movimentos;

- Movimentos mandibulares – surgem como tentativa de compensação dos défices, em casos de respiração oral e mordida cruzada lateral ou aberta anterior, por exemplo;

- Saliva – quando existe acumulo de saliva a produção dos sons é mais imprecisa, devido às manobras de contenção salivar;

- Alterações estruturais da face – se durante o desenvolvimento craniofacial existem alterações, podemos observar desproporções entre essas estruturas, que acarretam alterações ao nível da fala. Por exemplo, quando as faces são curtas, o espaço intra-oral é menor, o que conduz a movimentos mandibulares anteriores e laterais, que culminam na articulação incorrecta das sibilantes;

- Próteses – normalmente, só surgem problemas quando estas são mal construídas e adaptadas, então os seus portadores acabam por diminuir a abertura da boca, causando imprecisão articulatória;

- Freio da língua – quando existem modificações a este nível, a mobilidade da língua fica claramente prejudicada, especialmente em fonemas como /r/ e o /l/;
Quando existem alterações ao nível músculo-esquelético, as modificações da fala revelam-se no ponto articulatório, regra geral, tal como as distorções (sibilantes e /r/). Se são alterações funcionais podemos encontrar, mais facilmente, imprecisão articulatória.

REFERÊNCIA:
Marchesan, I.Q. (2004). Alterações de fala de origem musculoesquelética. In: Ferreira, L.P., Befi-Lopes, D.M. e Limongi, S.C.O. (Orgs.). Tratado de fonoaudiologia. São Paulo, Roca. pp. 292-303.

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REALIZADO POR: DANIELA DE OLIVEIRA VIEIRA (aluna finalista de TF na UFP)

06 janeiro 2007

"Heranças natalícias"

Madona e criança, Fra Fillipo Lippi (1406-1469)
«(…) Este ano fui forçada a tomar uma decisão inédita: a admissão do Menino Jesus na minha casa. Nada teria acontecido se não tivesse herdado a estatueta. (…)
A decisão de guardar o Menino é misteriosa. (…) Só agora, ao retirar de um armário as bolas de lamé dourado com que decoro a árvore, me deparei com a sua beleza. O que fazer: expô-lo ou deixá-lo ficar no buraco? A primeira opção levantava o problema de ter de explicar aos netos – os meus filhos há muito que deixaram de me fazer perguntas – a sua presença num lar ateu.
Decidi realizar uma sondagem de opinião. Telefonei aos netos e perguntei-lhes se prefeririam que, sob a árvore, eu pusesse o Menino. A resposta foi unânime: “Sim, por favor, avó, ponha-o, não se esqueça que é por causa dele que há a festa”. (…) Antes de chegar a família, pus-me, mais uma vez, a olhar o Menino. E a pensar na forma como poderia legar aos meus netos a tradição em que fui educada, a fim de que, também eles, possam, um dia, apreciar os quadros de Lippo Lippi, a nave do convento de Alcobaça e “A Paixão Segundo São Mateus” de J.S. Bach. O Menino acabou por fazer parte da festa de Natal, até porque, cá por casa, ao contrário do que parece estar a suceder por essa Europa fora, ninguém teme a “outra” religião. Antes que o Islão nos engula, convém que, às crianças ocidentais, seja explicada a importância do Cristianismo nas tradições, valores e culturas da nossa civilização. Mesmo uma avó ateia percebe isto.»

por Maria Filomena Mónica, in Pública (553), 24 de Dezembro de 2006

01 janeiro 2007

Avaliação da afasia pelo médico de família

Estava a fazer uma pesquisa e encontrei este artigo que faz uma síntese muito acessível sobre a avaliação das afasias:
"RESUMO
A linguagem é um processo complexo que envolve múltiplas estruturas do hemisfério cerebral esquerdo, hemisfério dominante para a linguagem nos indivíduos dextros e, mesmo na maioria dos indivíduos canhotos.
Designa-se por Afasia a perturbação de linguagem resultante de uma lesão cerebral que compromete vários aspectos da comunicação, nomeadamente a expressão oral, a compreensão de linguagem, a leitura e a escrita. São diversos os tipos de afasia, dependendo da localização da lesão cerebral.
A Afasia é uma sequela frequente de Acidente Vascular Cerebral, de traumatismos crânio-encefálicos e, embora mais rara, de tumores cerebrais ou de doenças infecciosas.
Pretende-se, neste artigo, descrever uma avaliação de linguagem passível de ser feita à cabeceira do doente ou numa consulta pelo médico de família. A avaliação consiste em quatro provas cardinais que permitem diagnosticar o tipo de afasia: fluência, nomeação de objectos, repetição de palavras e compreensão de ordens simples. Além destes, outros testes de leitura e de escrita permitem caracterizar melhor o defeito.
Palavras-chave: afasia, avaliação, linguagem."
Rev Port Clin Geral 2005;21:359-64