28 fevereiro 2007

Práticas em contexto educativo

No sítio do DGIDC do Ministério da Educação, está disponível um documento que pretende dar a conhecer as práticas do terapeuta da fala em contexto educativo e dos docentes de educação especial. Finalmente, publica-se o enquadramento destes profissionais:

Neste âmbito, aproveito para reproduzir aqui o TF Manifesto, uma excelente iniciativa que visa defender o papel dos TFs:
«Caros colegas Terapeutas da Fala,
Temos vindo, nos últimos anos, a assistir indignados (embora com pouca representatividade), ao proliferar por todo o país (mais na região norte) de inúmeros casos de actividade profissional não qualificada nas áreas de intervenção directa da Terapêutica da Fala. As situações mais frequentes (e mais chocantes) prendem-se com a actividade de indivíduos que possuem pós-graduações e/ou Master em Logopedia ou Patologias da Comunicação Linguagem e Fala. Na sua maioria são profissionais da área da Educação ou da Psicologia que após estas "pós-graduações" se sentem no direito de exercer uma profissão para a qual não estão efectivamente habilitados. Uns afirmam que fazem o mesmo que os Terapeutas da Fala, outros chegam a intitular-se de Terapeutas da Fala trabalhando em hospitais ou clínicas particulares e chegando a passar recibo e elaborar relatórios de serviços que não podem prestar. No entanto temos argumentos legais, provenientes do Ministério da Saúde (ver Anexo I), de que esta actividade profissional é ilícita, pelo que é nosso dever denunciar estas situações para proteger o bom nome da profissão e, em última instância, defender a saúde daqueles que procuram os nossos cuidados de saúde. Curiosamente, no último mês de Novembro chegou aos agrupamentos escolares da região norte um documento criado pelo Ministério da Educação e pela DREN para proceder ao "Parecer para efeito de Atribuição do Subsídio de Educação Especial" enviado às Escolas Sede e não Agrupadas (ver Anexo II), no qual se pode seleccionar a Logopedia como um apoio diferente da Terapia da Fala, reconhecendo-a indirectamente como uma profissão legal no nosso país. Isto vem mostrar a influência política que este grupo (que até já formou uma Associação Profissional) tem nas entidades superiores. A falta de um organismo fiscalizador do exercício profissional tem vindo a adiar a denúncia deste tipo de situações e a permitir que estas proliferem sem quaisquer tipo de consequências. Actualmente, a recém formada "Entidade Reguladora dos Serviços de Saúde" pretende, entre outras acções, fiscalizar este tipo de situações, pelo que procuramos organizar um documento concertado que permita a denúncia do maior número de situações ilícitas, de forma a construir um processo bem fundamentado que desencadeie as devidas consequências. A "TFmanifesto" não pretende ser ou tomar o papel de uma ordem ou associação profissional. É apenas uma iniciativa de um grupo de Terapeutas da Fala preocupados com a situação, que pretende reunir o máximo de informação possível e fazê-la chegar a entidades com maior poder de decisão. Pretendemos organizar um documento do tipo "Abaixo Assinado" e queremos pedir a colaboração de todos os Terapeutas da Fala e/ou outros profissionais ou interessados que apoiem esta iniciativa. Para tal é fundamental que divulguem este e-mail pelos vossos contactos e que respondam para o mail (tfmanifesto@gmail.com mailto:tfmanifesto@clix.pt) e autorizem a utilização do vosso nome e nº de cédula profissional*, sendo assegurada a confidencialidade deste documento. Solicitamos ainda que nos façam chegar por e-mail (uma vez que não temos morada) qualquer tipo de documento que possa comprovar situações de exercício profissional inqualificado (panfletos, publicidade, recibos, relatórios, etc.) e que nos comuniquem o nome e o local de trabalho desses profissionais. Por favor não deixe passar esta oportunidade em branco. Indigne-se! Proteja a nossa profissão e quem dela necessita. Junte-se ao TFmanifesto...»
Obrigada Ana Leonor, pela ajuda nesta malha confusa de documentos e links. :)

27 fevereiro 2007

Fait-divers

TF: Portugal, Espanha e França são…?
Criança: Equipas.

26 fevereiro 2007

Karaoke para surdos

14 fevereiro 2007

Perspectivas sobre a surdez

Perspectiva clínica
De um ponto de vista médico, o importante é avaliar a surdez e determinar como corrigi-la, usando implantes cocleares, próteses auditivas, terapia da fala e aprendizagem de leitura de fala. A orientação é sempre no sentido de tentar fazer com que a pessoa surda seja o mais “normal” possível, o que indica uma visão de indivíduos a quem falta algo e remete para uma etiologia subtractiva. As capacidades olfactiva, visual e de atenção são consideradas como compensação da perda auditiva, havendo uma centralização nas carências consequentes da surdez e para aquilo que não são capazes de fazer. O próprio surdo que encare a surdez dentro desta perspectiva de patologia poderá afirmar que não é surdo, mas apenas ouve mal.

A surdez é uma deficiência e pode ser mais ou menos limitativa dependendo de vários factores: não só do grau, tipo e etiologia da surdez, mas também da qualidade da educação/estimulação (sobretudo na infância). Um indivíduo surdo terá sempre mais dificuldades de integração numa sociedade de ouvintes e não é por acaso que a maioria dos surdos se aproxima de outros surdos e assim constitui família.

Perspectiva cultural
As pessoas que adoptam uma abordagem cultural assumem a surdez como uma diferença singular e não se focam na incapacidade. A Língua Gestual é considerada como a língua natural da sua comunidade e a surdez como um factor de orgulho. Por exemplo, há pais/cuidadores que consideram que a criança com um implante coclear aprenderá a falar normalmente com boa terapia, que ficará completamente integrada no mundo ouvinte e que as outras pessoas não conseguirão identificá-la como surda. Já numa perspectiva cultural, considera-se que uma criança com implante coclear, que use a língua gestual e que seja acompanhada em terapia da fala, conseguirá comunicar tanto com as pessoas ouvintes como com as surdas e não será relevante se os outros conseguem assinalá-la como surda ou não. Uma visão mais radical é a de que os surdos não precisam de oralizar, uma vez que a integração na sua comunidade e o uso da sua língua lhes trará toda a autonomia e socialização necessárias.

Emanuelle Laborit, surda profunda e actriz agraciada com o prémio Molière, faz um relato na sua biografia revelador da importância de uma pessoa conseguir perceber qual é a sua identidade e a igualdade da sua diferença:

“Um dia, quando era pequena, a minha avó materna, que era muito religiosa, contou-me uma história. Adorava que ela me contasse histórias. Naquele dia foi a ”minha” história... E nunca a esquecerei. Disse-me ela: “Sabes, Deus escolheu-te. Quis que fosses surda. Isso quer dizer que espera que transmitas alguma coisa aos outros, às pessoas que ouvem. Se tu ouvisses, se calhar não eras nada. Serias uma menina banal, incapaz de levar alguma coisa aos outros. Mas ele quis que fosses surda, para dares alguma coisa ao mundo.” (...) A minha avó transmitiu-me uma espécie de filosofia da existência. Uma solidez. Uma vontade.”
in O grito da gaivota (2000, p.204)

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Todos os pais têm sonhos para os seus filhos e idealizam como serão, mas estas visões podem ficar estilhaçadas abruptamente. Após a revelação de que têm um filho que não ouve, passam por uma fase inicial de choque, de frustração e decepção. O ideal seria que surgisse de seguida a fase da adaptação e da orientação, caracterizada por uma visão mais realista e por um rumo face aos serviços e apoios disponíveis. Poderá haver alguma dificuldade em ultrapassar os sentimentos de negação ou de superprotecção, mas é importante atribuir responsabilidades ao indivíduo surdo, encarar a deficiência e abranger o resto como normal, ou seja, não o socializar para a doença.

Numa família com surdos que conheço, pude constatar que houve uma mudança em favor da língua gestual ao longo dos anos, porque foi possível estabelecer uma comparação entre um surdo de 35 anos e o seu filho, igualmente surdo, actualmente com 7 anos. Há três décadas atrás, a corrente que vigorava era a oralista, mas o avô desta criança conseguiu fazer uma avaliação retrospectiva das suas opções e reconhecer a importância do aparecimento precoce de uma forma de comunicação que permitisse um melhor desenvolvimento de noções cognitivas básicas, essenciais para um desenvolvimento típico da linguagem. Este avô sentiu a necessidade de aprender a língua gestual para poder comunicar com o neto, algo que não tinha ocorrido com o seu filho surdo. Verifica-se que esta criança tem uma comunicação mais desenvolvida do que tinha tido o pai dele, na mesma idade, e que seguiu as fases normais de aquisição da linguagem, uma vez que teve contacto com a língua gestual e natural dos surdos desde o nascimento.

No entanto, a maior parte do esforço continua a ser exigido aos surdos e apesar de ser um direito deles o de dominar a língua de aquisição natural, é uma necessidade conhecer a língua do grupo maioritário de ouvintes, de forma a conseguirem comunicar e ter acesso, por exemplo, à informação escrita.

A maior parte da aprendizagem ocorre em interacção com os outros. Os pais/cuidadores têm um papel fundamental porque são os interlocutores e modelos privilegiados dos seus filhos, para além de serem eles que tomam decisões que poderão influenciar todo o futuro de uma criança. Desta forma, é muito importante a escolha que se faz quanto aos métodos de comunicação que se julga serem mais benéficos e eficientes. Os técnicos são igualmente importantes, não só através de uma intervenção continuada, mas também ao nível de prestação de esclarecimentos quanto às opções, para que os pais possam fazer uma escolha consentida e informada.

Um dos métodos mais preconizados actualmente para a intervenção em surdos é a comunicação total, que admite uma variedade de combinações e permite que a criança use a forma que lhe seja mais conveniente consoante o contexto. Alguns estudos já demonstraram os efeitos favoráveis desta abordagem em todas as áreas de desenvolvimento das crianças – psicossocial, linguística e académica. No entanto, se a linguagem oral for pouco valorizada e de utilização limitada no contexto onde a criança está inserida, os resultados poderão ser pouco visíveis, porque a língua gestual é a natural e mais espontânea para os surdos. O acompanhamento em terapia da fala é essencial porque fornece ferramentas para: o acesso à informação, a leitura de fala, a expressão para com ouvintes, a facilitação da aprendizagem e do desempenho escolar. As relações sociais e linguísticas são importantes na constituição do indivíduo e um atraso de linguagem pode causar dificuldades sociais, emocionais e cognitivas, além das comunicativas.
Os surdos não podem adquirir naturalmente uma língua auditiva-oral e, uma vez que existe um meio de comunicação visual, o problema deles não será orgânico, mas sim social e cultural.
Realizado por Eva Antunes

11 fevereiro 2007

Surdez: proposta de um planeamento terapêutico

Como objectivos da nossa intervenção podemos enumerar:

1. Desenvolver as habilidades sensoriais e perceptivas:
1.1. Usar de forma consistente a prótese auditiva;
1.2. Desenvolver as habilidades auditivas perceptivas, durante o processo contínuo de detecção, discriminação, reconhecimento e compreensão;
1.3. Integrar as pistas auditivas, visuais, tácteis para melhorar a percepção;
1.4. Integrar as habilidades auditivas, aprendidas num ambiente estruturado, na vida diária.

2. Desenvolver a linguagem:
2.1. Melhorar a comunicação “cuidador-criança” na modalidade de comunicação escolhida;
2.2. Desenvolver o discurso;
2.3. Adquirir e ampliar o vocabulário;
2.4. Adquirir e desenvolver a pragmática e as regras fonológicas, sintácticas e semânticas;

3. Desenvolver as habilidades de fala:
3.1. Aumentar as vocalizações com variedade dos movimentos do tracto vocal;
3.2. Aumentar o reportório fonético e fonémico;
3.3. Estabelecer as ligações entre percepção de fala e protecção de fala;
3.4. Melhorar a inteligibilidade da fala;

4. Intervir ao nível escolar:
4.1. Melhorar as habilidades de leitura e de escrita;
4.2. Adequar a base linguística para optimizar a aprendizagem escolar;

5. Intervir ao nível social/emocional:
5.1. Estabelecer a compreensão e aceitação da família que tem membros com D.A.;
5.2. Reduzir o stress da família;
5.3. Melhorar o desenvolvimento social e emocional.

REFERÊNCIA:
Lichtig, I. et al. (2004). Programa transdisciplinar de atendimento a famílias ouvintes e a seus filhos surdos. In: Ferreira, L.P., Befi-Lopes, D. & Limongi, S.C.O. (Org.). Tratado de fonoaudiologia. São Paulo, Roca, pp.740-750.


REALIZADO POR DANIELA DE OLIVEIRA VIEIRA

06 fevereiro 2007

Surdez: avaliação da criança sem oralidade

A avaliação é muito importante para evitar discrepâncias entre a capacidade auditiva da criança e o seu desempenho. O terapeuta não deve subestimar a capacidade da criança, pois não estaria a utilizar o máximo da audição residual, nem super estimar, uma vez que corre o risco de super-exigir da criança e não aproveitar outros sentidos.
Um dos problemas que podem surgir na avaliação das crianças com surdez é a não existência de comunicação verbal, então devemo-nos centrar na comunicação não-verbal. A avaliação deve contemplar:
- Intencionalidade comunicativa – se inicia ou responde às interacções, dirigindo-se a alguém; que se pode avaliar pelo contacto ocular ou físico, gestos (apontar), vocalizações e verbalizações;
- Funcionalidade – podem ser descritas 3: instrumental-reguladora (satisfação de necessidades – solicitar objectos, acções ou protestar), interacção social (chamar a atenção – exibir-se, obter a atenção para si, pedir permissão e saudar) e atenção conjunta (manutenção da atenção – faz comentários ou dá informações);
- Participação na actividade dialógica – envolvimento na interacção comunicativa;
- Meios de comunicação – se utiliza gestos indicativos, representativos (dão-nos informação sobre a sua capacidade simbólica), vocalizações articuladas ou não-articuladas e idiossincrasias, associadas entre si ou a palavras;
- Habilidades práxias articulatórias e buco-faciais – pede-se à criança que execute movimentos de lábios, língua, face e articulatórios;
- Nível de compreensão – reconhecimento de palavras, locuções e orações, associado à capacidade de evocar os objectos, actos e relações que aquelas palavras, locuções e orações representam e analisar o comprimento médio do enunciado;
- Postura comunicativa dos pais – para além das características inerentes ao desenvolvimento global da criança, também o meio onde se encontra inserida tem um papel preponderante no desenvolvimento da linguagem oral.

REFERÊNCIAS:
Hage, S. R.V. (s.d.). Avaliação fonoaudiológica em crianças sem oralidade.
Novaes, B.C.A. C. & Balieiro, C.R. (2004). Terapia fonoaudiológica da criança surda. In: Ferreira, L.P., Befi-Lopes, D. & Limongi, S.C.O. (Org.). Tratado de fonoaudiologia. São Paulo, Roca, pp.732-739.


REALIZADO POR: DANIELA DE OLIVEIRA VIEIRA (aluna finalista de TF da UFP)