08 maio 2007

Atraso do Desenvolvimento da Linguagem: Intervenção

Para implementar um processo terapêutico voltado para o sucesso, devemos ter em conta que o desenvolvimento da linguagem: 1) deve ser visto de uma forma global, em conjunto com as capacidades e as habilidades da criança; 2) influencia e é influenciado pelo desenvolvimento cognitivo, motor, afectivo e instrumental (motricidade e memória). A intervenção nestes casos pretende recuperar o ritmo de desenvolvimento da linguagem. Por isso, a meta a atingir será a criança chegar a um nível normal do desenvolvimento próprio para a idade.

Os objectivos específicos podem ser divididos em 3 grandes grupos:
1. Aspectos do desenvolvimento relacionados directamente com a linguagem:


- Percepção – estimular e potenciar a percepção auditiva a todos os níveis (atenção, sequenciação, memória, análise), com apoio da percepção visual, para uma eficaz organização conceptual;

- Funcionalidade da linguagem – a criança deverá saber como e para que se utiliza a linguagem e qual a sua finalidade. O uso da linguagem deve ser estimulado em actividades com base na comunicação, organização da própria conduta e regulação da dos outros, aquisição de conhecimentos do jogo, entre outros.

2. Regras que estruturam o sistema de signos:

- Organização do sistema fonológico da sua língua – dar a conhecer todos os sons da sua língua, por meio de onomatopeias e jogos sonoros, tentando que a criança os imite o melhor possível, descobrindo assim, as possibilidades articulatórias. Depois passámos à produção dos fonemas de forma isolada, seguida da sua combinação até chegar às palavras. A criança ao trabalhar a articulação actua igualmente, sobre a capacidade de audição e do auto-controlo auditivo-vocal;

- Sensibilização sobre os aspectos diferenciais dos significados, por traços morfológicos. Como são os morfemas de género, número, tempo, pessoa, aspecto e modo, para que seja capaz de detectar erros. Provocar trocas ao nível paradigmático e sintagmático na estrutura sintáctica dos enunciados;

- Léxico – trabalhar a conceptualização, caracterização dos conceitos em diferentes contextos, as suas possibilidades combinatórias e características semânticas;

- Relação entre linguagem e pensamento – estruturar o significado e a aquisição da componente semântica da língua, emitindo juízos de valor e fazendo deduções a partir de argumentos.

3. Envolvimento social mais próximo da criança:

- Relações familiares da criança – detecção de comportamentos de risco, como: super-protecção, falta de estimulação, exigência excessiva, expectativas inadequadas, ansiedade e preocupação dos pais. A nossa intervenção a este nível será numa tentativa de potenciar as interacções positivas, e proporcionar espaços de comunicação e de relação, ensinar aos pais a demonstrarem gosto e interesse pelo que a criança diz, desfrutar da sua companhia e brincar com ela. Estas condições afectam a personalidade da criança, uma vez que ela necessita de ser independente, de se adaptar e aceitar o seu ambiente familiar para modificar o seu desempenho linguístico. Devemos incentivar os pais a reforçar as aprendizagens feitas na sala da terapia em casa, através de técnicas, como: feedback correctivo, solicitação indirecta de esclarecimento, expansões sintácticas e semânticas, p.e. através da leitura conjunta de livros;

- Relação com o meio escolar – deve favorecer a sociabilização, tanto por parte da professora como dos seus pares, p.e., através de jogos; devem-se fomentar os estímulos verbais, enriquecendo o conteúdo dos significados. Aumentar o sentido de ritmo e de prosódia.

A terapia deve ser um momento de prazer e de aprendizagem, no qual devemos fomentar a aprendizagem e a diversão. “Los juegos de la infancia a menudo proporcionan la primera ocasión que tiene el niño de utilizar sistemáticamente el lenguaje con un adulto. Ofrecen la primera oportunidad de explorar el modo de conseguir que se hagan cosas con las palabras.” (Bruner cit. in Pérez & Roig, 2001, 111).

Devemos também tentar personalizar ao máximo a nossa intervenção, para isso temos que conhecer bem a personalidade da criança, os seus gostos e preferências. Não existem “receitas” para tratar estas perturbações, por isso, a intervenção deve ser feita numa equipa multidisciplinar e transaccional. Consiste na reeducação e no treino em terapia da fala e num enquadramento escolar adequado.
Bibliografia:
Pérez, O. & Roig, E. (2001). Retraso de adquisición del lenguaje. In: Puyuelo, M. (Org.). Casos clínicos em logopedia 1. 4.ª Ed. Barcelona, Masson. pp. 105-151.
Sociedade portuguesa de neuropediatria (2006). Qual deve ser a intervenção? [Em linha]. Disponível em
http://neuropediatria.online.pt/para-os-pais/atraso-na-linguagem/qual-deve-ser-a-intervencao. [Consultado em 18/06/2006].

REALIZADO POR Daniela de Oliveira Vieira (aluna finalista de TF na UFP)