28 outubro 2006

Doença de Alzheimer II


Intervenção do Terapeuta da Fala
As dificuldades de comunicação podem ser frustrantes tanto para o doente de Alzheimer como para os cuidadores. O objectivo principal na elaboração do plano individual de intervenção terapêutica é a melhoria da qualidade de vida do doente e da família, sendo a actuação primordialmente no uso de estratégias de comunicação, de acordo com o estágio da demência (Romero, 2005). Há várias formas para auxiliar na manutenção da conversação e da compreensão (Romero, 2005 e Alzheimer’s Society, 2005):
- Ouvir atentamente e encorajar a conversação.
- Assegurar que temos a atenção do doente antes de falar.
- Usar o toque e o contacto físico para transmitir conforto e para chamar a atenção.
- Manter o contacto ocular.
- Usar expressão corporal e facial.
- Usar frases simples e curtas.
- Evitar palavras com duplo sentido.
- Reformular quando o doente não entende (em vez de repetir).
- Dar uma informação de cada vez.
- Diminuir a velocidade da fala.
- Conversar sobre o presente.
- Colocar questões abertas.
- Espera estruturada – dar tempo para a elaboração da frase.
- Minimizar ruídos competitivos.
- Estabelecer uma rotina.
- Incentivar o uso de agendas e blocos de apontamentos.
- Relacionar o nome com o objecto.
- Usar fotos de família para conversas sobre o passado.
- Mostrar respeito pelo doente e não ser paternalista.
- Colocar-se no lugar do outro e tentar imaginar a sua realidade.

Com a evolução da demência, há um aumento da confusão entre factos e fantasia, mas deve-se evitar confrontar o doente com as suas contradições, tentando arranjar formas de “dar a volta” à situação – por exemplo, se dizem “A minha mãe está à minha espera.”, pode-se responder “A sua mãe costumava esperar por si, não era?” (Alzheimer’s Society, 2005).

Nos doentes de Alzheimer com dificuldades de deglutição são geralmente utilizadas técnicas de aumento da sensibilidade oral e, segundo Logemann (1998), os procedimentos envolvem um estímulo sensitivo preliminar ao início da tentativa de deglutição e incluem: 1) aumentar a pressão com a colher contra a língua, ao apresentar os alimentos na cavidade oral; 2) fornecer alimentos azedos/amargos; 3) dar alimentos frios; 4) oferecer alimentos que necessitem de mastigação; 5) preparar volumes maiores (3 ml ou mais); 6) estimulação térmico-táctil (4 ou 5 massagens verticais no arco palatino anterior, com um instrumento gelado, previamente à apresentação dos alimentos). Demonstrou-se que esta última técnica facilita o desencadear mais rápido da fase faríngea logo após a estimulação e reduz o atraso durante várias deglutições posteriores (Lazzara cit.in Logemann, 1998).

Nestas doenças progressivas, é importante o terapeuta da fala saber identificar o ponto a partir do qual a intervenção já não traz benefícios para o doente, ou porque perdeu o controlo neuromotor de forma irreversível ou devido a défices cognitivos graves (Logemann, 1998).
REFERÊNCIAS:
1) Alzheimer’s Society. (2005). Caring for someone with dementia. [Em linha]. Disponível em www. alzheimers.org.uk/Caring_for_someone_with_dementia/ Maintaining_quality_of_life/advice_communication.htm.
2) Logemann, J.A. (1998). Evaluation and treatment of swallowing disorders. 2nd ed. Austin, TX: Pro-Ed.
3) Romero, S.B. (2005). Intervenção fonoaudiológica nas demências. In: Ortiz, K.Z. (Org.). Distúrbios neurológicos adquiridos: linguagem e cognição. Barueri, Manole.
Imagem retirada de www.alz.org/brain/overview.asp © 2006 Alzheimer's Association
Realizado por: Eva Antunes

23 outubro 2006

Doença de Alzheimer

Vejam este brilhante anúncio, que transmite várias mensagens implícitas, com dignidade e sem explorar gratuitamente os infortúnios alheios. Será por isso que foi premiado!

Os sintomas das demências, de uma forma geral, incluem perda de memória, confusão, perturbações da fala e da compreensão. A doença de Alzheimer é uma doença degenerativa, progressiva, cujo início é insidioso e marcado pelos problemas mnésicos (Alzheimer’s Society, 2005 e Romero, 2005).

Romero (2005) apresenta uma divisão em 3 estágios, de acordo com a gravidade da doença e o grau de independência do indivíduo: 1) Inicial, destacando-se a anomia e os circunlóquios; 2) Intermediário, com agravamento das dificuldades de comunicação e de linguagem; 3) Final, ocorrendo mutismo e comprometimento de todas as funções cognitivas. Segundo a Alzheimer’s Society (2005), um sinal precoce de que a linguagem está a ser afectada pela demência é a anomia e poderá chegar a uma fase em que a pessoa quase não consegue comunicar através da linguagem.

Logemann (1998) descreve ainda as perturbações da alimentação e da deglutição que ocorrem nos indivíduos com a doença de Alzheimer. Inicialmente, desenvolvem uma agnosia aos alimentos, o que lhes dificulta a aceitação da comida na cavidade oral e a deglutição. Com o avanço da demência, surgem frequentemente apraxias da alimentação (incapacidade para o uso dos talheres) e da deglutição (dificuldade no início da fase oral, mantendo os alimentos na boca com poucos ou nenhuns movimentos da língua durante minutos). Os doentes de Alzheimer podem ainda apresentar alterações fisiológicas, tais como redução nos movimentos de lateralização da língua durante a mastigação, atraso no desencadear da fase faríngea da deglutição, reduzida elevação laríngea e movimento de posteriorização da língua diminuído. Romero (2005) relata que a pneumonia é a maior causa de morbilidade e morte nos doentes de Alzheimer, dados que reforçam a presença de problemas de deglutição.

A comunicação das nossas necessidades e sentimentos, assim como a deglutição, são áreas vitais para a preservação da qualidade de vida das pessoas e as estratégias de intervenção devem estar adaptadas ao estágio de evolução da doença (Alzheimer’s Society, 2005 e Romero, 2005).

"Uma criança abusada nunca esquece."

REFERÊNCIAS:
1) Alzheimer’s Society. (2005). Caring for someone with dementia. [Em linha]. Disponível em www. alzheimers.org.uk/Caring_for_someone_with_dementia/
Maintaining_quality_of_life/advice_communication.htm.
2) Logemann, J.A. (1998). Evaluation and treatment of swallowing disorders. 2nd ed. Austin, TX: Pro-Ed.
3) Romero, S.B. (2005). Intervenção fonoaudiológica nas demências. In: Ortiz, K.Z. (Org.). Distúrbios neurológicos adquiridos: linguagem e cognição. Barueri, Manole.
Realizado por: Eva Antunes

22 outubro 2006

A Terapêutica da Fala

A terapêutica da fala é uma profissão repleta de esperanças e promessas, com muitos desafios e encantos. É um privilégio poder intervir na única característica que nos distingue do animal e ter a possibilidade de ser um facilitador de mudança para aqueles que estão diminuídos na capacidade de comunicar. Trabalhar como terapeuta da fala é lidar com a resolução de perturbações relativas à própria essência do ser humano.

Como é difícil encontrar uma patologia exclusivamente numa determinada área, a reabilitação deve ser holística, atendendo ao indivíduo de uma forma global e sempre centrada nas suas idiossincrasias. Deve dar-se mais importância ao processo do que ao resultado final e a melhor intervenção será propor e não impor, sem esquecer a necessidade de motivação, promovendo a auto-estima com base na construção de relações de confiança.

Segundo o que foi deliberado pelo C.P.L.O.L. (Comité Permanent de Liaison des Ortophonistes / Logopèdes de l’Union Européenne – Comité Permanente de Ligação dos Ortofonistas / Logopedas da União Europeia) e adoptado pela A.P.T.F. (Associação Portuguesa de Terapeutas da Fala), “o terapeuta da fala é o profissional responsável pela prevenção, avaliação, tratamento e estudo científico da comunicação humana e das perturbações com ela relacionadas (…)”. Este fórum está aberto à discussão neste território tão vasto de intervenção e com aplicações cada vez mais diversificadas, seguindo as áreas propostas pelo C.P.L.O.L.:

- Perturbações articulatórias
- Perturbações da fala
- Perturbações da voz (de causa funcional, traumática ou orgânica, desenvolvimental ou aquirida)
- Perturbações da linguagem falada
- Perturbações da linguagem escrita (dislexia, disortografia, disgrafia)
- Perturbações que afectam o raciocínio matemático e lógico
- Intervenção precoce e terapia para incapacidades várias em crianças
- Ensino da leitura de fala para indivíduos com défices auditivos
- Ensino da fala a crianças surdas e terapia da linguagem a pessoas com défice auditivo adquirido
- Terapia para afasia e outras perturbações da fala e da linguagem de origem neurológica
- Terapia da alimentação e da deglutição
- Terapia para perturbações que afectam a trompa de Eustáquio
- Manutenção da comunicação em pessoas com perturbações cerebrais associadas ao envelhecimento.

A terapêutica da fala é uma ciência relativamente recente em Portugal (reconhecida pelo D.L. n.º 384-B/85 de 3 de Setembro), cuja evolução é notória de dia para dia. De acordo com uma análise estatística do C.P.L.O.L., Portugal é o país da União Europeia com mais habitantes por terapeuta da fala – temos 15.845 TF/habitante e a média da União Europeia é de 7.236,84 TF/habitante (dados de Maio de 2006). Podemos inferir que a terapêutica da fala ainda está em pleno desenvolvimento no nosso país, existindo muitas necessidades em determinados âmbitos de trabalho, escassez quanto à investigação e pouca divulgação do saber-fazer do terapeuta da fala.

Nesta profissão lida-se com muitos saberes de base diferentes, o que exige não só fundamentação teórica que suporte a actividade prática, mas também flexibilidade e capacidade de adaptação de forma a combinar o conhecimento científico com as habilidades clínicas. O objectivo é atingir o melhor resultado possível para os utentes.

Realizado por: Eva Antunes