
É a relação muito próxima entre os gémeos que sustenta a possibilidade de uma linguagem secreta/automática –
criptofasia – que permite a sua auto-suficiência e pode ser tida como uma fase antecedente à aquisição da linguagem social. O termo secreto é explicado pela ininteligibilidade do seu discurso aos outros. Nesta linguagem estão incluídos sons, palavras e sintaxe diferentes da utilizada pelos adultos, condicionante que atrasa de forma significativa a utilização da linguagem sociabilizada. Esta linguagem é utilizada entre eles e no seu próprio mundo, não sendo empregue para, ou quando um adulto está presente. A comunicação entre os gémeos e os adultos desenrolar-se-ia com uma linguagem social, ao passo que a sua linguagem idiossincrática ficaria só para os dois, isto leva-nos a pensar num caso especial de bilinguismo.
Por outro lado, a linguagem secreta pode ser considerada como uma forma precoce de desenvolvimento da comunicação, que pode permanecer ou ser alcançado mais tardiamente nos gémeos, especialmente quando a interacção com adultos está protelada. Segundo Savic (
cit.in Mogford, 2002, 121) a interacção com os adultos cria “(…) a motivação e a oportunidade para as crianças modificarem o seu sistema na direcção das formas adultas.”.
Características do desenvolvimento da linguagem:
- Atraso de cerca de 25 meses, no início da fala;
- Iniciam a conversação e respondem menos aos seus pais, o que é recíproco. Daqui ressalta a premissa de que “(…) a estimulação materna prediz o desenvolvimento linguístico.” (p. 112);
- Construção frásica imatura, vocabulário reduzido e enorme imaturidade, com défice acentuada na fonologia;
- Linguagem expressiva com pobre conteúdo conceptual.
Esta diferença é mais notória no período pré-escolar, todavia à medida que vão crescendo os seus enunciados vão se tornando mais próximos dos das outras crianças, facto que não se observa quando o ambiente é desfavorável, permanecendo alterados alguns aspectos da linguagem, especialmente a articulação e o vocabulário expressivo. Existem vários estudos que apoiam este atraso moderado no desenvolvimento da linguagem. As principais causas para este atraso estão relacionadas com factores biológicos e sociais, decorrente da necessidade de dividir as atenções e os recursos disponíveis.
Como experiência clínica gostaria de ressaltar a presença e o desafio de tratar estes casos. A criptofasia cria a oportunidade de os gémeos se sentirem independentes e construírem um mundo só seu, no qual ninguém é capaz de entrar, apenas algumas pessoas mais próximas, por exemplo, irmãos. Tentar mostrar-lhes a importância e incutir a utilização de uma linguagem comum à restante comunidade linguística onde se encontram inseridos é um verdadeiro desafio, que nos faz mergulhar numa imensidão de questões sobre o desenvolvimento da linguagem e nos desperta o “bichinho” por querer saber mais e fazer melhor.
Referência:
Mogford, K. (2002). Desenvolvimento da linguagem em gémeos. In: Bishop & Mogford. Desenvolvimento da linguagem em circunstâncias excepcionais. Rio de Janeiro, Revinter. pp. 99-122.
Realizado por:
DANIELA DE OLIVEIRA VIEIRA (aluna finalista do curso de TF na UFP)